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Resenha: A Gente Mira no Amor e Acerta na Solidão – Ana Suy

  • Foto do escritor: Instituto Emancipar
    Instituto Emancipar
  • 12 de mar.
  • 2 min de leitura

O amor é frequentemente retratado como uma promessa de completude, um remédio para todas as nossas inquietações. Mas e se, ao invés de ser a solução para a solidão, ele fosse também um de seus gatilhos inevitáveis? É essa provocação que Ana Suy nos faz em A Gente Mira no Amor e Acerta na Solidão, um livro que desconstrói as ilusões românticas e nos convida a encarar o amor sem filtros — na sua beleza e na sua crueza.

Com uma escrita íntima e reflexiva, Suy conduz o leitor por pensamentos que parecem surgir de uma conversa profunda em uma madrugada silenciosa. Não há personagens, enredo ou respostas definitivas. O que encontramos são fragmentos de reflexão, costurados de forma sensível e provocativa, que nos fazem enxergar o amor e a solidão não como forças opostas, mas como dois lados de uma mesma experiência.

Uma das questões centrais do livro é que a solidão não nasce apenas da falta de amor, mas também dentro dele. Nos relacionamentos mais felizes, há momentos de silêncio, de distanciamento, de solitude que não pode ser preenchida pelo outro. E isso não significa que o amor é menor ou falho — significa apenas que somos inteiros antes de sermos pares. Como escreve Suy:

“O amor não é a ausência da solidão, mas a permissão para existir nela.”

A autora também questiona a pressa com que buscamos viver o amor. No ritmo acelerado da vida moderna, queremos vínculos profundos em pouco tempo, exigimos certezas onde há apenas construção, buscamos garantias de um “para sempre” antes mesmo de viver o agora. Mas será que essa urgência faz sentido? O livro nos lembra que o amor precisa de tempo para existir, amadurecer e se transformar. E, nesse processo, a solidão não é um obstáculo, mas um espaço necessário para nos reconhecermos antes de encontrarmos o outro.

Outro ponto marcante é a desconstrução da ideia de que existe uma “metade da laranja” esperando por nós. Essa crença nos leva a uma busca incessante por alguém que nos complete, quando, na verdade, já somos inteiros. O amor, segundo Suy, não deve ser um remendo para nossos vazios, mas um encontro entre duas pessoas que se permitem ser quem são, sem a obrigação de suprir todas as carências um do outro.

Ao longo da leitura, surgem também reflexões sobre o ciúme, o medo do abandono, o luto pelo que achávamos que era amor e até mesmo a forma como os números — idade, tempo, frequência — influenciam nossas relações. Tudo é abordado sem pressa, sem verdades absolutas, apenas com questionamentos que ecoam na mente muito depois de fecharmos o livro.

No final, A Gente Mira no Amor e Acerta na Solidão não busca nos confortar com respostas fáceis, mas nos acolher na complexidade das emoções humanas. Ele não romantiza a solidão nem idealiza o amor — apenas nos mostra que ambos fazem parte da experiência de estar vivo. E nos ensina que se sentir só, às vezes, não significa estar sem amor.

Este é um livro para quem deseja ver o amor para além dos contos de fadas — e para quem quer aprender a conviver melhor com a solidão inevitável de toda relação verdadeira.


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